Paraíba é o 10º Estado com maior número de casos de AVC

Resultado de imagem para casos de AVCResponsáveis por mais de 70% das mortes no país e pelo menos metade das mortes do mundo, as doenças crônico degenerativas, dentre as quais está o Acidente Vascular Cerebral (AVC), são hoje uma das maiores preocupações da humanidade. Na Paraíba, 1,8% da população maior de 18 anos de idade apresenta diagnóstico médico positivo para o AVC, de acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2013, do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE). Com esse número, o Estado está situado no 10º lugar na lista dos que apresentam mais casos da doença.

Conforme a pesquisa, o número de pessoas diagnosticadas com a doença seria aproximadamente 50.112. Ao todo, foram mais de 30 mil homens e quase 20 mil mulheres com diagnóstico médico positivo para o AVC na Paraíba. Somente em janeiro deste ano, o Hospital de Emergência e Trauma da Senador Humberto Lucena, em João Pessoa, atendeu a 231 casos de pessoas com quadro de AVC . Em todo o ano passado, foram 2.386 pessoas atendidas na capital.

O Acidente Vascular Cerebral, também conhecido como derrame, é uma enfermidade que ocorre quando há um entupimento ou rompimento dos vasos que levam sangue ao cérebro, provocando a paralisia da área do cérebro que ficou sem circulação sanguínea adequada. O tipo mais frequente da doença, correspondendo a cerca de 80% do total de casos, é o AVC isquêmico, causado por fatores que propiciam a formação de coágulos que sobem para o cérebro por meio de alguma artéria ou por placas que entopem as artérias. Os outros 20% são diagnósticos de AVCs hemorrágicos, que são provocados por picos de pressão ou aneurismas, que levam a quadros hemorrágicos.

Dentre os fatores que podem ocasionar o AVC estão alguns que são imutáveis e outros mutáveis, conforme especificou a médica neurologista Ana Moema Nóbrega. “O fator genético, cerebral ou cardiovascular, pessoas de raça negra têm maior propensão, assim como pessoas do sexo masculino e com idade mais avançada. Além desses, temos o tabagismo, a hipertensão arterial, o colesterol alto, o álcool e o estresse, que são os principais fatores mutáveis que poderão interferir para um caso positivo de AVC”, explicou.

Para prevenir o AVC é necessário, conforme a neurologista, que haja um controle dos fatores mutáveis que podem acarretar a doença, como ter uma vida regrada, praticar atividades físicas e tomar medicações que possibilitem o controle das taxas corpóreas. Já o tratamento deve prioritariamente ser feito por um médico. “E o quanto antes. Os tratamentos variam, mas o tempo desde a ocorrência do AVC até o atendimento médico deve ser feito em até, no máximo, três horas, no caso de um AVC isquêmico. O hemorrágico, por sua vez, tem outra abordagem. Mas o tratamento é sempre feito, em longo prazo, com o controle do fator lipídico com medicamentos como as estatinas”, disse.

Medicação é essencial para evitar ocorrência da doença
A pressão alta e a diabetes fizeram a mãe da diarista Maria de Lourdes da Silva, de 54 anos, apresentar um quadro de AVC. Hoje com 88 anos, a sua mãe, Noêmia Barbosa, continua viva, porém com sequelas provocadas pelo mal que a atingiu 20 anos atrás. “Minha mãe tinha hipertensão, diabetes, tudo isso, aí acabou tendo o AVC, mas se recuperou, graças a Deus, ficando apenas com as sequelas. Hoje em dia ela se trata e toma medicação, como as sinvastatinas (derivado da estatina), para o controle das taxas, mas depois desse primeiro AVC, ela não teve nenhum outro”, comentou.

Foi por causa desse quadro apresentado pela mãe que a diarista começou a cuidar mais da saúde. Ela também tem diabetes, pressão e colesterol altos, motivos pelos quais ela busca sempre se cuidar. “Eu tomo remédio para controlar a pressão e o colesterol. Já faz uns dois anos que tomo e não sinto nada, e minhas taxas, que chegavam a até 280, caíram para 160. Eu só vejo benefícios e não pretendo parar de tomar, e de me cuidar”, afirmou.

A alegação da diarista em defesa do medicamento foi motivada pela decisão do seu esposo, Pedro da Silva, de parar de tomar a medicação. Segundo ela, Pedro é taxista, e nas andanças pelas ruas ele ouviu boatos de que as estatinas, composto utilizado na principal medicação prescrita para casos de elevação da taxa de colesterol, estaria agravando o quadro dos pacientes, tornando-os mais propícios a serem acometidos por diversas doenças, dentre elas o AVC. 

“Meu esposo estava com as taxas muito altas. Tem hipertensão e colesterol alto. Aí ele começou a sentir uns formigamentos no braço e foi ao médico, que receitou os medicamentos para pressão e as estatinas, para o colesterol. Depois de ouvir essas histórias, ele parou de tomar e está com os sintomas voltando tudo de novo e fica dizendo que a culpa é do remédio”, declarou Maria de Lourdes Silva.

Controle do colesterol é essencial contra o AVC
O médico cardiologista e coordenador do módulo de doenças prevalentes do sistema cardiocirculatório, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Marco Antônio Barros, explicou que o LDL (Lipoproteína de baixa densidade) é considerado o colesterol ruim e, por esse motivo, em excesso no sangue ele pode depositar-se nas partes mais superficiais das paredes dos vasos, causando uma maior propensão à ocorrência de eventos cardiovasculares.

Devido a isso, ele explicou a necessidade do controle dessa taxa para uma menor possibilidade de ser acometido por doenças como o AVC e alertou para casos como o do taxista Pedro da Silva, que, por conta própria, deixou de tomar a medicação mais eficiente para o tratamento da doença.

“As revistas mais conceituadas do mundo na área médica mostram a correlação entre as taxas de morte por ataques cardíacos e a taxa de colesterol, existindo uma relação direta de causa e efeito entre eles. A comunidade científica passou anos empenhando esforços para desenvolver estratégias para o controle do colesterol com vistas à redução de eventos cardiovasculares – infarto, AVC, morte súbita – e as estatinas foram as substâncias encontradas extremamente potentes e de mínimos efeitos colaterais. É muito arriscado você alegar que um medicamento como esse estaria causando as doenças que eles buscam evitar e até tratar”, argumentou. 

Conforme o médico, as estatinas foram descobertas no ano de 1980 no Japão e diversos estudos comprovaram a eficácia e segurança deste composto, com a redução da ocorrência de infarto, angina e AVC. Como resultado, elas ainda foram responsáveis pela redução das taxas de mortalidade por doenças do sistema cardiocirculatório e, por consequência, as taxas de mortalidade geral. 
Ele reconheceu a existência de efeitos colaterais ocasionados pelas estatinas, dentre eles a inflamação da musculatura periférica e do fígado. Ele explicou que isso acontece em um a cada grupo de mil pacientes e os mais propensos a sofrerem com esses efeitos são os idosos, as mulheres e as pacientes com baixa superfície corpórea.

“Todo medicamento apresenta efeitos colaterais. Mas, no caso das estatinas, sua segurança e eficácia foram demonstradas nos diversos estudos. Eles não anulam o risco da ocorrência desses efeitos, por isso é importante o acompanhamento dos pacientes, principalmente com dosagens de enzimas hepáticas e musculares, entretanto, não há na literatura publicação que demonstre associação do uso das estatinas com o aumento das taxas de AVC”, acrescentou. 
“Na medicina não existem verdades absolutas, porém, à luz do conhecimento atual, esses medicamentos são imprescindíveis para promover o controle do colesterol com eficácia e segurança para os nossos pacientes”, completou.

Fonte: Othacya Lopes-Jornal da Paraiba